domingo, 2 de junho de 2013

Guarup

A história começa no início do governo de Getúlio Vargas, na década de 1950, e vai até o golpe militar de 1964, com as primeiras perseguições e torturas da ditadura militar. A maior parte da narrativa se dá nas reservas indígenas do Xingu, onde o protagonista, padre Nando, irá aos poucos se integrar à dura realidade local. 

Quando ainda vivia em um mosteiro, Nando conhece Francisca e seu noivo, Levindo. O jovem acaba se apaixonando por Francisca e teme não conseguir mais cumprir seus votos de castidade quando fosse viver com os índios do Xingu. Então, uma amiga inglesa de Nando, Winifred, oferece-se a ele. Após ter sua primeira relação sexual, Nando está pronto para seguir seu caminho.

Antes de ir ao Xingu, Nando passa pelo Rio de Janeiro, onde conhece diversas pessoas ligadas ao Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Junto ao chefe Ramiro e os outros, Nando se entrega às drogas (o éter das festas regadas a lança-perfume que eles faziam) e ao sexo. Porém, nem tudo é só festa e Fontoura, chefe do Posto Capitão Vasconcelos (Xingu), conta a Nando a dura realidade dos índios na região do Xingu: a pobreza e as doenças que assolavam a população indígena, fruto de uma ganância que lhes roubou as terras e a tranquilidade. 

Do Rio de Janeiro, Nando parte para o Xingu. A época era 1954, em plena fase do atentado contra Carlos Lacerda e dos últimos momentos do governo de Getúlio Vargas. Há uma grande expectativa na inauguração do Parque Nacional do Xingu, algo que Vargas já estava prometendo há muito tempo. Enquanto isso há a preparação de um grande ritual, o “quarup” - festa indígena aos mortos, que constitui em uma série de cerimônias ritualísticas, de caça e de pesca. Entre estes festejos todos, chega a notícia do suicídio de Vargas e com a morte do presidente, também se vai a esperança de ver o Parque se tornar realidade. 

Anos depois, os integrantes do Serviço de Proteção aos Índios, Nando e Francisca voltam a se reencontrar no Xingu. Francisca havia retornado da Europa e estava solteira, sou noivo foi morto pela polícia. Ao se reencontrarem, renasce o amor de Nando, mas dessa vez Francisca corresponde aos desejos dele. Então, os dois se amam no centro da floresta virgem, em meio a orquídeas coloridas.

O grupo segue em frente em uma expedição pelo Xingu, cada um com sua obsessão. Após enfrentarem fome, risco de vida, furtos, tribos ferozes ou doentes e famintas, o grupo chega ao centro geográfico. Destruído pelo alcoolismo, Fontoura morre com o rosto em cima de um grande formigueiro após perder as esperanças de salvar os índios. 

Nando renuncia ao sacerdócio e volta a Pernambuco com Francisca, que passa a trabalhar na alfabetização de camponeses. Ela leva a Pernambuco a terra do centro geográfico para cumprir uma promessa feita a Levindo. Com isso, Francisca resolve abandonar Nando em memória de seu noivo falecido.

Neste momento, a história está no governo de Miguel Arraes em Pernambuco e as luta dos camponeses, liderada por Januário, ganha força. Nando resolve ajudar o movimento. Com o golpe militar de 1964, o presidente João Goulart é deposto e Arraes afastado. Os líderes dos movimentos são perseguidos e diversas prisões feitas, inclusive a de Nando. Na cadeia, Nando passa por interrogatórios e sofre diversas torturas, principalmente torturas morais.

Ao ser solto, Francisca já havia partido novamente para a Europa. Nando resolve morar em uma casa de praia que foi deixada de herança por seus pais e se entrega a uma vida de amor carnal. Ele então passa a amar todas as mulheres: feias, prostitutas, mulheres abandonadas. Acredita que deve amar a todas e tenta convencer outros a também o fazer, de forma que vários pescadores se juntam a ele. Enquanto isso, seus antigos companheiros de luta política estão organizando um novo movimento revolucionário, mas desta vez no sertão nordestino.

No décimo aniversário da morte de Levindo, Nando resolve comemorar a data com uma espécie de “quarup”. Ele reúne, então, seus antigos companheiros de lutas políticas, os pescadores, prostitutas e amigos para o grande jantar. Este ritual acontece simultaneamente à grande Marcha da Família com Deus pela Liberdade (nome comum de uma série de manifestações públicas organizadas por setores conservadores da sociedade, contra os protestos da população que era contra a ditadura militar), que invadem a festa junto com a polícia. Muitos são presos, outros fugem e Nando é espancado quase até a morte.

Socorrido por dois amigos, uma prostituta e um antigo companheiro de luta, Nando é levado para a casa do padre Hosana. Após se recuperar, ele resolve partir para o sertão e voltar às lutas. Antes de partir, Nando passa em sua casa e encontra cartas de Francisca. Após matar alguns guardas que estavam de tocaia o esperando, Nando parte de Recife. Então, ele explica a Manuel, seu companheiro de luta, que Francisca já não é mais uma mulher de carne e osso, ela era o “centro de Francisca”. Nando, obrigado a mudar de nome, adota o nome de Levindo. 

Lista de personagens
Nando: protagonista do romance. Padre que abandona a vida religiosa para se dedicar a lutas sociais.
Francisca: jovem burguesa por quem Nando se apaixona. Para não se juntar nas lutas pelos camponeses, é mandada para Europa por seus pais.
Levindo: noivo de Francisca. Jovem revolucionário, morre atingido pela polícia.
Ramiro: chefe do Serviço de Proteção aos Índios. Formado em Farmacologia e filho de médico, acredita que a curar as doenças dos índios é a solução para todos os problemas delas.
Fontoura: chefe do Posto de Proteção Vasconcelos, no Xingu. Sonha em ver os índios protegidos com a criação do Parque Nacional do Xingu.
Manuel Tropeiro: companheiro de luta de Nando.
Leslie e Winifred: pesquisadores ingleses amigos de Nando.

Semana de Arte Moderna

Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, no Teatro Municipal, de 11 a 18 de fevereiro, teve como principal propósito renovar, transformar o contexto artístico e cultural urbano, tanto na literatura, quanto nas artes plásticas, na arquitetura e na música. Mudar, subverter uma produção artística, criar uma arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as novas tendências européias, essa era basicamente a intenção dos modernistas.
Durante uma semana a cidade entrou em plena ebulição cultural, sob a inspiração de novas linguagens, de experiências artísticas, de uma liberdade criadora sem igual, com o conseqüente rompimento com o passado. Novos conceitos foram difundidos e despontaram talentos como os de Mário e Oswald de Andrade na literatura, Víctor Brecheret na escultura e Anita Malfatti na pintura.
O movimento modernista eclodiu em um contexto repleto de agitações políticas, sociais, econômicas e culturais. Em meio a este redemoinho histórico surgiram as vanguardas artísticas e linguagens liberadas de regras e de disciplinas. A Semana, como toda inovação, não foi bem acolhida pelos tradicionais paulistas, e a crítica não poupou esforços para destruir suas idéias, em plena vigência da República Velha, encabeçada por oligarcas do café e da política conservadora que então dominava o cenário brasileiro. A elite, habituada aos modelos estéticos europeus mais arcaicos, sentiu-se violentada em sua sensibilidade e afrontada em suas preferências artísticas.
A nova geração intelectual brasileira sentiu a necessidade de transformar os antigos conceitos do século XIX. Embora o principal centro de insatisfação estética seja, nesta época, a literatura, particularmente a poesia, movimentos como o Futurismo, o Cubismo e oExpressionismo começavam a influenciar os artistas brasileiros. Anita Malfatti trazia da Europa, em sua bagagem, experiências vanguardistas que marcaram intensamente o trabalho desta jovem, que em 1917 realizou a que ficou conhecida como a primeira exposição do Modernismo brasileiro. Este evento foi alvo de escândalo e de críticas ferozes de Monteiro Lobato, provocando assim o nascimento da Semana de Arte Moderna.
O catálogo da Semana apresenta nomes como os de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, John Graz, Oswaldo Goeldi, entre outros, na Pintura e no Desenho; Victor Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e Wilhelm Haarberg, na Escultura; Antonio Garcia Moya e Georg Przyrembel, na Arquitetura. Entre os escritores encontravam-se Mário e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Sérgio Milliet, Plínio Salgado, e outros mais. A música estava representada por autores consagrados, como Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernani Braga e Frutuoso Viana.
Em 1913, sementes do Modernismo já estavam sendo cultivadas. O pintor Lasar Segall, vindo recentemente da Alemanha, realizara exposições em São Paulo e em Campinas, recepcionadas com uma certa indiferença. Segall retornou então à Alemanha e só voltou ao Brasil dez anos depois, em um momento bem mais propício. A mostra de Anita Malfatti, que desencadeou a Semana, apesar da violenta crítica recebida, reunir ao seu redor artistas dispostos a empreender uma luta pela renovação artística brasileira. A exposição de artes plásticas da Semana de Arte Moderna foi organizada por Di Cavalcanti e Rubens Borba de Morais e contou também com a colaboração de Ronald de Carvalho, do Rio de Janeiro. Após a realização da Semana, alguns dos artistas mais importantes retornaram para a Europa, enfraquecendo o movimento, mas produtores artísticos como Tarsila do Amaral, grande pintora modernista, faziam o caminho inverso, enriquecendo as artes plásticas brasileiras.
A Semana não foi tão importante no seu contexto temporal, mas o tempo a presenteou com um valor histórico e cultural talvez inimaginável naquela época. Não havia entre seus participantes uma coletânea de idéias comum a todos, por isso ela se dividiu em diversas tendências diferentes, todas pleiteando a mesma herança, entre elas o Movimento Pau-Brasil, o Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, e o Movimento Antropofágico. Os principais meios de divulgação destes novos ideais eram a Revista Klaxon e a Revista de Antropofagia.
O principal legado da Semana de Arte Moderna foi libertar a arte brasileira da reprodução nada criativa de padrões europeus, e dar início à construção de uma cultura essencialmente nacional